A hora da distribuição digital

Como parte das comemorações dos 15 anos de sua maior franquia, a Capcom decidiu anunciar um relançamento de dois dos maiores clássicos da série. Resident Evil 4 e CODE: Veronica estão prestes a chegarem ao mercado em versões remasterizadas, com gráficos em alta definição e um sistema de iluminação completamente refeito.

Com a notícia, veio também uma novidade para a franquia, que não foi tão bem recebida assim pelos fãs brasileiros. Os games seriam lançados no Ocidente apenas por meios de distribuição digital, como a PlayStation Network e a Xbox LIVE, e não seriam disponibilizados em disco. Nesse formato, o game estará disponível apenas no Japão.

A iniciativa da Capcom não tem precedentes dentro da franquia, mas faz parte de um lento movimento da empresa na direção dos jogos lançados apenas para download. Além disso, é uma forma da companhia testar uma tendência que é cada vez mais presente na indústria de games.

A trindade formada por Steam, LIVE e PSN

A venda de jogos por meio de sites e sistemas de distribuição digital é um fenômeno relativamente recente, que vem ganhando representatividade cada vez maior no mercado. É também um reflexo de video games e PCs conectados o tempo todo à internet, que por sua vez apresenta conexões cada vez mais velozes por preços que baixam à medida que o tempo passa.

Hoje, três serviços representam grande parte dos jogos vendidos e baixados por meios legais: a PlayStation Store, do PlayStation 3, a Xbox LIVE, do Xbox 360, e o Steam, serviço disponibilizado pela Valve, mas que trabalha com jogos para PC de qualquer desenvolvedora. O último é o pioneiro nesse tipo de distribuição e responsável pelo lançamento da tendência.

Sustentando o mercado

O mercado de jogos digitais também é o principal responsável pela sustentação da indústria de jogos. Enquanto empresas de análise de mercado apontam cada vez mais que as vendas de games estão em queda, desenvolvedoras e distribuidoras apresentam relatórios financeiros estáveis ou com lucro, motivados principalmente pela venda de DLCs e jogos em redes online.

Um exemplo recente é a Ubisoft, que comemorou seu mais recente relatório financeiro mesmo apresentando queda de 36% nos lucros. A razão é simples: a empresa registrou, entre os meses de abril e junho de 2011, um faturamento de € 68 milhões (cerca de R$ 152 milhões) provenientes apenas de serviços de distribuição digital. O total representa 66% de todas as suas vendas de jogos registradas no trimestre. E as cifras e porcentagens altas se repetem em quase todas as outras desenvolvedoras grandes.

Lançar jogos vendidos digitalmente também representa uma grande economia, pois elimina o processo de produção e distribuição de discos, caixas e manuais. Além disso, os sistemas de proteção de direitos autorais presentes nestes métodos também dificultam a pirataria, um problema gritante principalmente em jogos para computador.

A Capcom está completamente por fora dessa tendência. Com pouquíssimos jogos de peso lançados por meio da distribuição digital, a empresa tem todas as suas fichas apostadas nos jogos em disco e nada pode fazer quando observa a queda nas vendas de games físicos. A situação, obviamente, exige uma mudança de direção, e é exatamente isso que estamos vendo agora.

Vale citar que Resident Evil 4 e CODE: Veronica não são as únicas iniciativas da Capcom no mercado de jogos digitais. A empresa também prepara o relançamento de Street Fighter III: 3rd Strike (foto), com exclusividade para PSN e Xbox LIVE, tendo como grande destaque a possibilidade de enfrentar adversários online. O mesmo também valia para os agora cancelados Mega Man Legends III e Mega Man Universe.

Prós e contras

Os jogadores, porém, pouco se importam com os aspectos de mercado que fazem com que algumas empresas invistam pesado na distribuição digital. Estes métodos, porém, também apresentam vantagens (e desvantagens) para os jogadores.

O principal benefício é a possibilidade de ter um game recém-lançado apenas horas após seu lançamento. Para jogadores brasileiros, acostumados a esperar pelo menos algumas semanas até verem os últimos lançamentos chegarem às prateleiras, tal questão por si só já é capaz de dar uma larga vantagem ao Steam, PSN e LIVE. O tempo que você levará para estar jogando o último lançamento depende apenas da velocidade da sua conexão.

No Brasil, porém, tal aspecto também é dificultado, uma vez que conexões ultra rápidas ainda são raras e ainda caras. Jogos em disco costumam pesar pelo menos alguns gigabytes, e tudo isso precisa ser baixado para o console ou computador. Muitas vezes, o desgaste de esperar tanto tempo (e o tempo que o download pode levar dependendo da velocidade da sua internet) faz com que comprar a edição física valha mais a pena, sem contar os gastos com armazenamento.

O preço também é um fator a ser levado em conta. Enquanto a edição física de Resident Evil 5 pode ser encontrada no Brasil por preços que variam de R$ 99 a R$ 150, a versão do game disponível no Steam, por exemplo, sai por cerca de R$ 32, e recebe reduções constantes devido a promoções. Além disso, a compra por meio digital também exclui possíveis problemas alfandegários como taxação e demora na entrega, caso você seja adepto das compras internacionais.

O crescimento dos meios de distribuição digital (e a pressão das lojas físicas pela sobrevivência do formato) também gerou um aumento considerável na criação de edições especiais. Hoje, é difícil encontrar um jogo esperado que não conte com um pacote de colecionador disponível apenas em lojas de games. Estas versões também estão ficando cada vez mais baratas. Os colecionadores agradecem!

O que esperar

Se tivéssemos de fazer uma aposta, diríamos que não vamos ver Resident Evil 4 e CODE: Veronica sendo lançados por aqui em alta definição, pelo menos não tão cedo. Por serem os primeiros games de destaque da empresa a chegar por estes meios, lançá-los também em mídia física seria dar um tiro no pé, uma vez que as compras seriam divididas.

Para a Capcom, o lançamento é uma forma de observar se os jogadores realmente confiam nos sistemas de distribuição digital e se as vendas dos títulos nesses formatos se equipararão aos métodos convencionais. O futuro desse tipo de sistema, pelo menos para os jogos da empresa, dependerá do desempenho das vendas de Resident Evil Revival Selection. Tendo em vista a recepção dos títulos pelo público, dá para afirmar que, pelo menos, não veremos um fracasso.

Por outro lado, os jogos em caixa estão longe de acabar. Segundo pesquisa do instituto Ipsos MediaCT, 64% dos jogadores dão preferência aos games físicos quando podem escolher entre eles e as compras digitais, mesmo com os preços mais baixos. Sendo assim, o futuro caminha mais na direção da convergência entre os dois formatos do que da substituição de um por outro.

Resident Evil 4, em alta definição, chega à PlayStation Network e Xbox LIVE em 20 de setembro. CODE: Veronica será lançado uma semana depois, no dia 27. Os jogos custarão US$ 19,99, cerca de R$ 32, cada um. No Japão, a edição física de Resident Evil Revival Selection sai em 8 de setembro.