Se te perguntassem “O que é um zumbi?” qual seria sua resposta? Com certeza ela não passaria muito longe da definição padrão estabelecida pela série Resident Evil e também pelos filmes. Para a maioria de nós, a palavra é sinônimo de um morto que, por qualquer motivo, voltou a viver. Caminhando novamente pela terra e em avançado estado de decomposição, ele busca um único objetivo: comer a carne dos vivos.
O conceito de zumbi, porém, surgiu muito antes dos filmes de Romero. Apesar de ter sido citado pela primeira vez no livro “The Country of the Comers-Back” (O País dos que Voltam, em tradução livre), do antropólogo grego Lafcadio Hearn, foi o jornalista William Seabrook o responsável por firmar as bases do monstro e apresentá-lo para o Ocidente. No livro “A Ilha da Magia”, de 1929, o americano relata sua viagem ao Haiti e como teve um contato direto com uma cultura na qual o fim da vida não necessariamente significa o descanso do corpo.
Com um gosto pela aventura, herdado de seus tempos como militar, Seabrook ficou intrigado pelos relatos vagos do livro de Hearn. Disposto a ter uma experiência em primeira mão com o que chamava de “a terra dos mortos viventes”, ele viajou até o Haiti para relatar a seus leitores aquilo que eles, provavelmente, jamais veriam com os próprios olhos.
Para os haitianos comuns, a palavra zumbi era sinônimo de medo. Os mortos que vivem, porém, eram parte integrante da religião africana, trazida para o Haiti com a chegada dos brancos e escravos, que multiplicavam a população do país. O vodu, como é chamado, tem como principal base a ideia de que um ser humano poderia ser possuído pelos deuses, deixando de lado sua própria alma para dar entrada à divindade.
A separação da alma e corpo era realizada em um ritual controlado. O medo dos haitianos surgiu da ideia de que, se era possível fazer isso por meio da música e dança, tal ação também poderia ser tomada por um alguém fora das cerimônias vodu. Ocasionando um estado de falsa morte, por meio da magia negra, um feiticeiro poderia utilizar o “cadáver” para seus próprios fins. Em vez de uma divindade,o indivíduo teria sua alma separada do corpo e substituída pelos desígnios de seu “senhor”.
Ciência X magia, e um tiro na cabeça
Apesar do que os haitianos acreditavam, a “falsa morte” causada pelos ladrões de cadáveres pouco tinha a ver com o vodu. Aproveitando-se da lenda que corria entre os habitantes da ilha, homens de negócios inescrupulosos ou desafetos em busca de vingança se utilizavam de uma técnica bem mundana para tomar posse do corpo dos indivíduos de interesse.
De acordo com o antropólogo canadense Wade Davis, no livro “A Serpente e o Arco-Íris”, o responsável pelo estado de morte temporária era um veneno obtido da mistura da Bufotoxina, encontrada na pele de algumas espécies de sapos, com a Tetrodoxina, elemento paralisante encontrado na carne dos baiacus. Os “senhores dos zumbis” contaminavam a comida de suas vítimas, e os principais efeitos eram a diminuição drástica da respiração e batimentos cardíacos, além de uma paralisação geral do corpo. Tudo isso sem efetivamente matar o envenenado.
Retirado de suas tumbas após serem enterradas, as vítimas eram mantidas em um estado permanente de torpe por meio de drogas e levadas a locais distantes de onde moravam em vida, de forma a diminuir as chances de serem encontrados. Assim, eram condenados a uma semi-vida de trabalho forçado, e aqueles com mais resistência aos venenos eram levados a acreditar que haviam sido ressuscitados e estavam sofrendo punições por maus atos durante sua estadia na Terra.
As famílias haitianas tinham diversas maneiras de impedir que os ladrões de túmulos agissem contra seus entes queridos. Alguns enterravam os corpos em tumbas feitas de pedras, outros contratavam guardas para permanecer ao lados das sepulturas. Um terceiro grupo tomava medidas mais extremas e atirava na cabeça dos cadáveres antes de deixá-los na terra. Mesmo com essas práticas, a dúvida sempre permanecia: será que o falecido estava realmente morto?
Terrores de ordem econômica
O temor dos haitianos dos zumbis não se relacionava especificamente a ser atacado por um deles, e sim a se tornar um. Marcados pela escravidão e vivendo em condições sub-humanas, muitos habitantes do país viam a morte como única saída da vida de sofrimento que levavam em terra. A ideia de que, mesmo após falecerem, ainda poderiam ser submetidos a trabalhos forçados, essa sim, era aterrorizante.
De acordo com “A Ilha da Magia”, os zumbis escravos eram reais. Seabrook conta a história das lavouras de cana-de-açúcar no Haiti, gerenciada pela HASCO (Companhia de Açúcar Haiti-Americana, na sigla em inglês). Em 1919, com a produção batendo recordes, houve uma grande demanda de trabalhadores rurais, prontamente atendida por Ti Joseph de Colombier, um desconhecido completo.
Chegando à plantação com um bando de trabalhadores maltrapilhos que trabalhavam durante dias e noites sem parar e eram mantidos afastados do restante dos empregados da HASCO. A direção da empresa não se importava com essas peculiaridades, uma vez que a força trazida por Colombier produzia mais do que todos os outros funcionários da plantação.
Durante o feriado haitiano de Corpus Christi, porém, os zumbis foram levados à Porto Príncipe pela mulher de Colombier, contrariando as ordens de seu marido. Ela sentia pena daquelas pessoas e, para ajudar, deu a eles comida e doces. Os alimentos cortaram o efeito das drogas administradas pelo senhor e, um a um, os escravos “voltaram à vida”.
Essa ressurreição, porém, foi temporária já que os zumbis tiveram tempo apenas de voltas às suas sepulturas originais. Sob os olhares aterrorizados de seus familiares, os escravos de Colombier, um a um, tombavam no cemitério. Revoltados, os entes queridos dos falecidos mataram o feiticeiro e deixaram seu corpo para apodrecer à vista de todos, ao lado de seus dominados.
Esta foi a primeira história de zumbi a ser publicada nos EUA. A partir daí, o fascínio dos americanos pelos mortos que andam apenas cresceria, dando origem a filmes, literatura e peças de teatro. Os próprios zumbis também sofreriam metamorfoses, afastando-se completamente de suas origens para se transformarem nos tão temidos cadáveres em decomposição que só querem saber do cérebro dos vivos.
Para ver
Com forte inspiração em “A Ilha da Magia”, “Zumbi Branco” pode ser considerado como a primeira obra a levar os mortos-vivos à tela grande. Com Bela Lugosi no elenco, o filme pode ser assistido acima, na íntegra, pelo YouTube.
Vale a pena assistir também a “O Zumbi”, com Boris Karloff, que conta a história de um egiptólogo que aprende a retornar do mundo dos mortos; e “A Revolta dos Zumbis”, que pega carona na temática da Primeira Guerra Mundial para pensar, pela primeira vez, nos mortos que andam como super soldados, utilizados com fins bélicos.
“Como é bom ver a família!” E aja pesquisa! Poxa muito boa à matéria parabéns!
Medo :0
Parabéns, materia muito boa.
Excelente post! Indico um filme Curitibano muito bom http://www.youtube.com/watch?v=E4MrFkjc7Gs
Que fala desse zumbi original, mais o roteiro e transposto e o personagem principal descobre o feitiço na missão de paz que os brasileiros fazem no Haiti!
Excelente
Caramba que histórico ” It’s Real Life! ” parabéns pelo artigo.. lucidou muito da história sobre a mitologia dos fatos.
Mas uma coisa não munda nunca …. de fronte a um zumbi atire primeiro pergunte depois !
Parabéns
a capcom fez um especie de referencia no proprio jogo.
quando se retira o parasita adulto do hospedeiro, provoca a morte do mesmo.
parece até a historia dos zumbis originais.
A foto do primeiro zumbi de Resident Evil seria perfeita pro post 😀