Capcom e o combate ao mercado de jogos usados

Capcom e o combate ao mercado de jogos usados

Ontem, com a chegada de Resident Evil: The Mercenaries 3D às lojas americanas, uma pequena informação de rodapé no manual do game foi transformada em notícia. Os saves do título, que ficam armazenados no cartucho e não no console, não podem ser apagados. Isso significa que, uma vez que todos os extras do título são liberados, não é possível recomeçar o game do zero e habilitar tudo de novo.

A medida marcou a entrada da Capcom no rol de desenvolvedoras de jogos que utilizam recursos para impedir – ou pelo menos, dificultar – o mercado de jogos usados. Com isso, os compradores de jogos de segunda mão seriam desmotivados a comprar um título já finalizado, uma vez que não poderiam começar a aventura desde o início.

Capcom utiliza método anti-revenda em Resident Evil: The Mercenaries 3D: entenda

Empresas como THQ e Warner já adotam medidas semelhantes em seus principais jogos. A utilização desse tipo de recurso, porém, começou na história recente, com o game de tiro Homefront sendo o primeiro a ganhar manchetes nos principais sites de games devido ao Online Pass, espécie de ticket online que pode ser utilizado apenas uma vez e fica eternamente vinculado à conta do usuário em seu console original. Caso o título seja vendido para um segundo dono, ele deverá comprar um novo passe, que custa US$ 10 (cerca de R$ 16).

Problema para as empresas, vantagens para os jogadores

A utilização deste tipo de prática é uma resposta das desenvolvedoras a um problema cada vez mais frequente no mercado de jogos: o repasse de títulos usados. Tal prática, muito comum principalmente entre os donos de consoles nos Estados Unidos e Japão, é endossada por grandes redes varejistas.

O procedimento é simples: o jogador leva o título que não deseja possuir à loja e troca por outro também usado, ou recebe um valor irrisório em dinheiro pela “venda”. O game usado vai então para as prateleiras, sendo comercializado por preços menores do que os de jogos novos.

Segundo dados da gigante varejista americana Gamestop, 47,4% dos US$ 3,6 bilhões de dólares acumulados em vendas durante o ano fiscal de 2010 são oriundos da revenda de jogos usados ou seminovos. Desse total, adivinhem quanto foi repassado às desenvolvedoras e distribuidoras. Zero.

No Brasil, o meCapcom utiliza método anti-revenda em Resident Evil: The Mercenaries 3D: entendarcado de compra de jogos usados não tem tanta representatividade devido à ganância das lojas, que pagam valores ínfimos aos jogadores e revende os títulos por preços altos, muitas vezes equivalentes aos de games novos. As trocas, porém, tem representatividade bem maior, que pode ser percebida por meio de anúncios no Mercado Livre ou até mesmo pela existência de soluções dedicadas a isso, como o Troca Jogo.

Tal problema fez, inclusive, com que Mike West, designer da Lionhead e um dos membros da equipe responsável pela série Fable, fizesse uma comparação infeliz, afirmando que o mercado de jogos usados é mais danoso à indústria do que a pirataria. “É uma situação deprimente, onde as pessoas acham que não vale a pena gastar dinheiro em jogos. O que eles estão fazendo é se certificando de que haverão menos jogos no futuro e mais pessoas desempregadas”, afirmou, em entrevista ao Eurogamer.

Falando em jogos e números concretos

Apenas com números recentes dos títulos da série é possível perceber porque a situação se transformou em um grande problema para as desenvolvedoras. Resident Evil 5, por exemplo, se tornou o terceiro game mais vendido da história da Capcom e esteve presente entre os 20 jogos mais comercializados nos EUA, Japão e Europa no ano de seu lançamento, 2009.

Por outro lado, dados da revista Famitsu, publicados no final do mesmo ano, mostraram que a aventura de Chris e Sheva também foi o quinto game usado mais vendido do ano. Cerca de metade das cópias vendidas no Japão foram devolvidas pelos gamers em um algum momento após o lançamento. Quer dizer, o total de 5,5 milhões de unidades vendidas registrado por Resident Evil 5 em todo o mundo poderia ser, pelo menos, 50% maior.

Capcom utiliza método anti-revenda em Resident Evil: The Mercenaries 3D: entendaSituação semelhante ocorreu recentemente com Resident Evil: The Mercenaries 3D. Lançado no dia 2 de junho no Japão, por 4800 yenes (cerca de R$ 94), preço tabelado para os novos games do Nintendo 3DS no país. Duas semanas depois, porém, o título já podia ser encontrado nas prateleiras de revendedores por valores a partir de 500 yenes, aproximadamente R$ 10.

A reação dos consumidores

A medida adotada pela Capcom não teve uma boa repercussão em meio aos fãs. Em pesquisas rápidas no YouTube, Google ou Facebook, por exemplo, é possível encontrar iniciativas de boicote à compra do título no lançamento. Tal ação teria como objetivo forçar uma redução no preço do game, de forma a deixá-lo mais compatível com os valores de games usados.

O fato é que tal recurso é extremamente invasivo às dinâmicas de jogo de uma parcela de usuários, apesar de provavelmente não afetar a maioria dos compradores. É impossível recomeçar o game do zero, uma opção bastante utilizada principalmente por fanáticos por Resident Evil e pode tornar o jogo extremamente repetitivo e chato depois de algum tempo, pela obrigatoriedade de utilizar armas infinitas ou superpoderosas, por exemplo.

Em resposta, a Capcom deu uma declaração ao site Kotaku afirmando que o impossibilidade de se apagar os saves nada tem a ver com um ataque ao mercado de jogos usados e se trata de uma decisão de desenvolvimento do game. “A natureza do game propicia que o título seja jogado diversas vezes em busca de pontuações mais altas. Além disso, a função não remove qualquer conteúdo”, afirmou um representante em nota oficial. Enquanto isso, boatos dão conta de que as lojas Gamestop, dos EUA, e EB Games, da Austrália, não aceitarão devoluções do título para revenda.

Capcom e o combate ao mercado de jogos usados

O ideal seria que a Capcom utilizasse o mesmo sistema da THQ ou Warner, vinculando um passe online único ao console do usuário e obrigando o comprador do game usado a adquirir um novo. Tal medida, porém, esbarra nas imposições presentes no próprio Nintendo 3DS, que não possui uma rede online tão elaborada quanto a encontrada no PlayStation 3 ou Xbox 360.

Perante o desagrado dos fãs em relação à impossibilidade de apagar os saves de Resident Evil: The Mercenaries 3D, resta apenas torcer para que o game, mesmo assim, seja um sucesso de vendas. Isso, como sempre, possibilita a chegada de novos títulos da série e pode inventivar a Capcom a buscar formas melhores e menos invasivas de garantir o seu lucro no fim do ano fiscal.

ATUALIZAÇÃO: Em entrevista, o vice-presidente da Capcom, Christian Svensson, admitiu que a decisão não foi das mais acertadas e afirmou que, no futuro, o mesmo sistema de saves não será mais utilizado.


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Autor: Felipe Demartini Ver todos os posts de
Felipe Demartini (Evil Shady) trabalha com sites de Resident Evil desde 2000. É jornalista e descobriu nos games a melhor combinação entre trabalho e diversão.

3 Comentários em "Capcom e o combate ao mercado de jogos usados"

  1. Joacir Júnior 04/07/2011 at 11:35 -

    Descordo que o ideal seria ter uma conta online porque obriga ao jogador estar conectado a internet.
    Acredito que a política para combater a venda de jogos usados estaria numa campanha de reaproveitamento destes jogos.
    A Capcom (ou qualquer outra distribuidora) poderia receber um jogo usado como um desconto na compra de um novo e utilizar o usado para revendê-lo ou até mesmo recicla-lo para a fabricação de um novo.
    Ela poderia até mesmo dar dinheiro virtual para compras de itens online na compra de um jogo novo.
    Vamos esperar que a Capcom utilize um recurso menos agressivo para combater a venda de jogos usados.

    Um abraço

    • -Evil Shady- 04/07/2011 at 15:15 -

      Não falei em estar conectado o tempo todo, e sim vincular um passe online ao usuário… assim, se ele ativar, só ele vai poder jogar aquele game pela internet. Se vender, o novo dono tem que comprar um novo.

  2. Vinis 29/02/2012 at 03:31 -

    Concordo com Joacir, ainda mais se tratando da CAPCOM que ultimamente esta numa viadagem de lançar os jogos, depois vender DLC`s para os jogos, e depois lançar outras edições dos mesmos jogos em uma outra mídia, fazendo com que voce tenha que repassar o jogo antigo o mais rapido possivel para pegar o atualizado.

    Falo porque aconteceu comigo em SF IV, Marvel VS Capcom 3 e RE 5.