Port perdido: Resident Evil 2 para Game.com

Resident Evil 2 para Game.com: O port perdido

Resident Evil 2, lançado originalmente em 1998 para o PlayStation, talvez seja o único jogo a fazer concorrência com RE4 quando o assunto é quantidade de relançamentos. O segundo título é o jogo da série que alcançou maior número de vendas apenas em seu console de lançamento e, até hoje, é o terceiro mais vendido da história da Capcom, com 4,96 milhões de unidades comercializadas.

A aventura de Leon e Claire esteve presente na grande maioria dos consoles lançados entre 1998 e 2001. Passou pelo Nintendo 64, Dreamcast e GameCube, até aterrissar na geração atual com um relançamento para a PlayStation Network. Um relançamento, porém, passa despercebido por dois motivos simples: a falta de representatividade do port e o fracasso do próprio aparelho para o qual ele foi lançado.

No final de 1998, Resident Evil 2 chegava ao portátil Game.com, da Tiger, e seria um entre a biblioteca de 20 títulos lançado durante o curto ciclo de vida do console.

Resident Evil 2 para Game.com: O port perdido

Dos minigames para os grandes games

A Tiger Electronics ficou conhecida com a criação do Furby, um pequeno robô animado que interagia com o dono e possuía características faciais bem definidas. A patente dos bichinhos rendeu à companhia uma proposta de compra pela Hasbro e, como parte de um conglomerado multimilionário, deu a ela a capacidade de brigar de igual para igual com alguns dos principais fabricantes de brinquedos dos anos 1990.

Resident Evil 2 para Game.com: O port perdido

Fonte: handheldmuseum.com

A história da Tiger, porém, começa muito antes. Fundada em 1978, a empresa foi uma das principais fabricantes de minigames durante os anos 1980 e 1990. Eram aparelhos simples, normalmente com um único jogo, que possuíam pequenas telas de LCD ou cristal líquido. O relativo sucesso dessas empreitadas rendeu à empresa contratos para produção de acessórios como cabos e para o Game Boy, da Nintendo.

O objetivo da empresa, porém, era ser muito maior do que suas concorrentes. A parceria com a Nintendo gerou, em 1995, o R-Zone, console portátil que vinha para competir com o Virtual Boy, da Big N. O aparelho tinha um conceito estranho, e possuía telas nos próprios cartuchos, que projetavam imagens em lentes colocadas à frente dos olhos do usuário. Desnecessário dizer que o vídeo game foi um retumbante fracasso, assim como seu principal concorrente.

Resident Evil 2 para Game.com: O port perdido

Fonte: studio42.info

Tais fatos, porém, não foram suficientes para acalmar os ânimos da Tiger, que ainda pensava em produzir consoles. A compra pela Hasbro, em meados de 1997, permitiu que a empresa colocasse em prática seus planos de produzir um novo portátil, focado em um público mais velho. Assim nascia o Game.com.

Com um design que parecia inspirado no Game Gear, da SEGA, e intenção direta de concorrer com o Game Boy, da Nintendo, o Game.com chegou ao mercado com cinco games. A lista incluía títulos mais focados nos adultos, como Duke Nukem 3D e Mortal Kombat Trilogy. Mais tarde, o portátil receberia games de grandes franquias como Sonic e Jurassic Park.

O principal diferencial do aparelho, a touchscreen, também abria espaço para uma interface diferenciada, que trazia funções dos primeiros Palms da época e reunia agenda de compromissos, calendário e anotações, por exemplo. Na memória, havia ainda um game de Paciência.

A Tiger chegou a lançar versões posteriores do Game.com, diminuindo seu tamanho e adicionando acesso à internet, e tentou voltar ao mundo dos minigames com o 99x, uma versão ainda menor de seu console anterior que continha um único jogo. Os aparelhos eram considerados “edições especiais” e uma única versão foi lançada, com Resident Evil 2.

Um dos grandes motivos para o fracasso do Game.com foi a simples recusa da Tiger em enviar kits de desenvolvimento para as produtoras. A empresa desenvolvia todos os games em seu próprio estúdio e apenas adquiria as licenças de marcas. Tal estratégia diminuiu absurdamente o suporte das third parties e reduziu ao máximo a biblioteca de títulos do Game.com.

A Tiger interrompeu o suporte ao Game.com em meados dos anos 2000. O console foi lançado apenas nos Estados Unidos e vendeu cerca de 300 mil unidades. Devido a seu fracasso retumbante, não é nem mesmo considerado uma relíquia entre os colecionadores, apesar de ter sido o primeiro console a possuir uma tela sensível ao toque e contar com funções que se tornariam usuais apenas muitos anos depois.

Leon em um mundo 2.5D

Apesar da versão de Duke Nukem ter utilizado o 3D no título, e do Game.com contar com alguns ports de games do PlayStation, o aparelho não era capaz de rodar gráficos tridimensionais. A alternativa encontrada pela Tiger para portar Resident Evil 2 foi utilizar gráficos no estilo 2.5D: imagens bidimensionais, mas que possuíam diversas camadas de profundidade.

Resident Evil 2 para Game.com: O port perdidoA versão de RE2 para Game.com foi lançada no final de 1998 e continha apenas a aventura com Leon. A ideia da Tiger era aproveitar o sucesso da franquia pelo maior tempo possível. Sendo assim, a aventura com Claire chegaria posteriormente em um novo cartucho, completando a trama do segundo game da série.

A jogabilidade é semelhante à do título original, mas, como o Game.com não possuía botões de controle superiores, mirar e atirar poderia se tornar algo complicado com a utilização apenas dos dispositivos frontais. A tela de toque era usada para gerenciamento de inventário, por onde também era possível acessar os arquivos de texto e mapas.

Resident Evil 2 para Game.com: O port perdido

O game apresentava uma versão reduzida da trama de Resident Evil 2. Leon partia das ruas da cidade e chegava até a delegacia. Havia também uma breve passagem pelo laboratório da Umbrella, onde acontecia a batalha final contra William Birkin. Estranhamente, não existem muitas imagens dos segmentos posteriores do game. Aparentemente, a união dos controles ruins com a baixa qualidade do game impedem que os usuários cheguem ao seu final.

Todos os inimigos que aparecem na versão de Resident Evil 2 para consoles estão lá. Zumbis, Lickers, corvos e até as Ivies aparecem, mas em menor quantidade e variedade em relação ao game original. Alguns dos chefes de fase, como o Tyrant e G-Imago, não são enfrentados. Ao todo, a aventura de Leon poderia ser terminada em cerca de uma hora (mais tempo do que o suportado pela bateria do console) e, após completada, não existiam extras.

Resident Evil 2 para Game.com: O port perdidoResident Evil 2 acabou sendo o principal título do Game.com, e o mais lembrado entre os entusiastas do console. O game licenciado, de acordo com a informação de alguns colecionadores, foi o mais vendido para a plataforma, mas não existem números concretos sobre o montante obtido pelo título.

Ao lançar o 99x, a Tiger tentou insistir mais uma vez em Resident Evil 2. Mais uma vez só era possível jogar com Leon, mas o aparelho continha um sensor infravermelho que fez com que a empresa prometesse algo inovador. Uma segunda versão do console seria lançada, com a história de Claire, e permitiria multiplayer local. O título nunca chegou a ser lançado.

Como ter acesso

Apesar de ter sido lançado há quase quinze anos, o aparelho permanece como um sistema fechado. Desde 2006, o MESS, um emulador de múltiplas plataformas clássicas, conta com um plugin quase inoperante que dá suporte ao console da Tiger. Já um grupo russo, os Game Commies, alegam possuir um software funcional para rodar os games do aparelho, mas afirmam que jamais lançariam o programa ao público. No Brasil, a aparição do aparelho e seus jogos em redes como o Mercado Livre é raríssima. Quando existem ofertas, os preços normalmente ultrapassam a marca dos R$ 200.

Sendo assim, a única maneira de jogar Resident Evil 2 ou qualquer outro título lançado para o Game.com é adquirir um dos diversos aparelhos que estão disponíveis para venda no eBay, por preços que variam entre US$ 20 (cerca de R$ 31), por um console usado, e US$ 100 (aproximadamente R$ 160), pelo video game lacrado. A versão de RE2 pode ser encontrada a partir de US$ 2,50 (pouco menos do que R$ 4).


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Autor: Felipe Demartini Ver todos os posts de
Felipe Demartini (Evil Shady) trabalha com sites de Resident Evil desde 2000. É jornalista e descobriu nos games a melhor combinação entre trabalho e diversão.

5 Comentários em "Port perdido: Resident Evil 2 para Game.com"

  1. Gualberto_rock 06/07/2011 at 23:47 -

    Relatos atuais indicam que a Tiger Electronics esta tentando desenvolver um console mais moderno que o GBC! XD

    R.I.P. Tiger

  2. joao paulo 28/07/2011 at 11:20 -

    adorei essa materia ! e super intereçante saber dessa istoria ! eu pensava que GAME.COM era um site !kkkkkk
    agora eu ja sei !!!

  3. Feeh Felizardo 30/08/2011 at 14:27 -

    Eu gostei. Muito mesmo. Queria poder por as mãos num desses.

  4. rescclp 03/09/2011 at 02:41 -

    Eu confesso Felipe: Eu tenho o portatil que comprei lacrado (ebay, a uns 5 anos…), tenho o jogo, mas nunca terminei. Fora que são 4 pilhas e duram por volta de uma hora. Mas prometo que até o fim do ano eu termino! rsrsrs. 😉