E se Resident Evil Outbreak fosse lançado na atual geração de consoles?

No dia 30 de junho de 2011, os servidores japoneses que suportam a jogabilidade online de Resident Evil Outbreak e sua sequência, File #2, serão permanentemente fechados. A infraestrutura era a única ainda em funcionamento em todo o mundo, já que os sistemas europeus e americanos para o título deixaram de funcionar a alguns anos.

O desligamento dos servidores dos dois jogos significa também, se forçarmos um significado, o fim do último respiro da antiga jogabilidade da série. Agora, quem quiser jogar Resident Evil pela internet deve procurar o quinto episódio da série, com o “novo estilo” ou se limitar aos jogos antigos e desconectados.

Com o fim da jogabilidade online licenciada, especulações surgem em relação ao futuro da série secundária da Capcom. Uma delas traz esperanças de que agora, com o fim da obrigatoriedade de pagamento para o multiplayer, a Capcom poderia liberar o código-fonte do game, permitindo a criação de servidores privados. Tal situação, apesar de ter precedentes com empresas grandes (como a Ubisoft e seu Myst Online), parece bem impossível quando se trata da nossa querida desenvolvedora.

A segunda possibilidade citada pela maioria dos fãs é justamente o tema desse artigo. E se Resident Evil Outbreak fosse lançado para a atual geração de consoles? Antes de responder a essa pergunta, é preciso dar uma olhada no passado.

Um game à frente do seu tempo

A Capcom é, historicamente, uma empresa notória por testar certas possibilidades muito antes de se tornarem um padrão na indústria. Apenas na série Resident Evil é possível citar dois exemplos de movimentos extremamente ousados que, apesar de não terem funcionado na época de seu lançamento, se tornaram comuns algum tempo depois.

Resident Evil Gaiden, lançado em 2001, foi a primeira vez que uma desenvolvedora grande tentou transformar a mesma experiência dos consoles de mesa para um aparelho portátil. Apesar de ser considerado um game ruim, o título pavimentou o caminho para uma série de outros títulos e até mesmo para a própria franquia de horror, que agora conta com três títulos consistentes em video games de bolso.

Esse movimento também possibilitou um investimento maior em jogos para celulares, muito tempo depois. A Capcom, que antes se limitava a produzir minigames baseados em sua maior franquia, fez seu primeiro movimento no campo dos jogos móveis consistentes em 2006, com Resident Evil: Confidential Report. A ousadia deu frutos e hoje a divisão móvel da empresa é vista como um dos ramos mais promissores da desenvolvedora.

Foi essa mesma característica vanguardista que, em 2003, fez o primeiro Resident Evil Outbreak vir ao mundo. Lançado para o PlayStation 2, um console que não possuía o online como um de seus componentes nativos, o jogo depositava grande parte de suas fichas no multiplayer via internet. Tal fator estava enraizado até mesmo nos personagens do game, pessoas comuns assim como os jogadores.

A falta de cuidado da Capcom com o modo offline é mais uma amostra de que a empresa pensava em Outbreak como um título para ser jogado online. Desconectado, ele apresentava uma inteligência artificial risível, com parceiros que mais atrapalhavam o jogador do que o ajudavam. Sendo assim, ter um modem do PlayStation 2 era praticamente essencial.

O PlayStation Network Adapter foi lançado em 2001 e custava US$ 39,99 (pouco mais de R$ 63), um preço relativamente baixo. O fraco resultado nas vendas fez com que a Sony, em 2004, embutisse o modem no novo modelo de PlayStation 2, o Slim, numa tentativa de impulsionar sua utilização.

Ainda assim, as funções online do console não emplacaram. Esse fator se deve, em grande parte, à pouca representatividade das funções multiplayer disponíveis na maioria dos títulos. Em grande parte, as desenvolvedoras apresentavam os modos como meros extras, em vez de elementos consistentes do pacote.

Mesmo com todas essas adversidades, Resident Evil Outbreak apresentou resultados satisfatórios. Com críticas que variavam entre notas regulares e boas, o título ultrapassou a marca de 1,4 milhão de cópias vendidas. O sucesso motivou, no ano seguinte, o lançamento de File #2, sequência que não repetiu os resultados de seu antecessor, apesar de apresentar grandes melhorias na jogabilidade.

Ao todo, Resident Evil Outbreak File #2 não ultrapassou as 500 mil cópias vendidas, muito abaixo do esperado pela Capcom. Para a empresa, as melhorias nas mecânicas do título renderiam, pelo menos, um resultado próximo ao obtido pelo anterior. Como isso não aconteceu, um terceiro game deixou de fazer parte dos planos. Esse fator também depõe contra os relançamentos tão desejados pelos fãs.

De volta a Raccoon City

Resident Evil: Operation Raccoon City, outro título com forte componente online, é um dos principais lançamentos da Capcom para 2011. Se fizer o sucesso esperado pela desenvolvedora, o game colocará a famosa cidade em um holofote mais forte do que nunca. Além disso, há o relançamento de RE4 e CODE: Veronica para PlayStation 3 e Xbox 360, no pacote Revival Selection, que funciona como um teste da empresa no sistema de distribuição digital dos consoles.

Se ambos os jogos atingirem as expectativas da companhia, aumentam as chances de que Resident Evil Outbreak e sua sequência também sejam revividos nessa geração. É possível que os títulos sejam lançados separadamente e apenas por meio de downloads, exatamente como a Revival Selection. Tal distribuição também representa uma aposta mais segura para a Capcom pois resulta em jogos mais baratos, dificulta a pirataria e dispensa gastos com a produção de discos e distribuição.

No PlayStation 3 e Xbox 360, Resident Evil Outbreak estaria em seu território perfeito. A ótima estrutura online proporcionada pelos dois consoles facilitaria a marcação de partidas com amigos ou o encontro de estranhos para as rodadas. Apesar de também estarem sujeitos a quedas, é improvável que os servidores que suportam a LIVE ou a PSN sejam fechados em um futuro próximo, o que garantiria a jogabilidade online por muitos anos.

A Capcom também poderia aproveitar a oportunidade para resolver alguns problemas dos títulos, tornando-os mais polidos para o lançamento. Com os tempos de loading resolvidos pela instalação dos games no HD dos consoles, o trabalho poderia ser feito nas dinâmicas de jogo, que poderiam se tornar mais fluídas que as vistas no lançamento original.

Além disso, um trabalho gráfico poderia ser realizado. É provável que, caso os games realmente venham a ser relançados, que apenas um upscale de resolução para 720p seja executado, mas não é demais pedir texturas remodeladas, pelo menos para os personagens. Isso evitaria serrilhados horríveis nas telas de alta definição, que estragariam os bons gráficos exibidos por Resident Evil: Outbreak em sua versão original.

Tudo isso, claro, não passam de meras especulações. Todas as possibilidades expostas nesse texto, porém, são baseadas em tendências reais do mercado de jogos. O trabalho de melhoria gráfica, por exemplo, já foi feito pela Sony para o relançamento dos dois primeiros God of War, enquanto a Revival Selection é uma indicação de que a Capcom pode pensar em também relançar seus clássicos do PlayStation 2 na atual geração.

Aos fãs de Outbreak, resta apenas torcer e fazer com que suas reivindicações sejam ouvidas pela Capcom. Sequências ou relançamentos para o título estão entre os cinco pedidos mais feitos por meio dos fóruns oficiais da companhia, o que mostra que os aficionados pela série estão fazendo valer seu pedido. Agora, fica à cargo da empresa tornar esse desejo realidade.

* “E se…” é uma série de artigos que analisa e especula os rumos que a série levaria caso acontecimentos da trama ou do mercado de games, não tivessem ocorrido ou acontecessem de maneira diferente.