A notícia de que a desenvolvedora canadense Slant Six Games seria responsável pelo novo game da série causou estranheza entre a comunidade de fãs. Afinal de contas, por que a própria Capcom não ia desenvolver Resident Evil: Operation Raccoon City? A franquia foi vendida para outra empresa?
Na verdade, a principal razão para esse fato remete àquilo que está por trás da maioria das decisões: o mercado de games. Terceirizar o desenvolvimento de jogos é uma prática comum entre as grandes empresas e acontece muito mais vezes do que se imagina. E, por mais incrível que possa parecer, essa também não é a primeira vez que algo desse tipo acontece na própria franquia Resident Evil.
Assim como livros, games também precisam de editoras
Em Resident Evil: Operation Raccoon City, um dos papéis da Capcom é o de publicadora. É ela a responsável por fabricar os discos, encartá-los juntamente com manuais e outros materiais, e enviá-los para as lojas. Esse tipo de processo é muito comum na indústria, principalmente no caso de desenvolvedora pequenas ou no lançamento de games fora de seu território original.
Durante muito tempo, por exemplo, os games da série Resident Evil para PC foram distribuídos na Europa pela Eidos. Ou seja, mesmo desenvolvidos pela Capcom, eles chegaram às lojas com o selo da criadora de Tomb Raider. O mesmo vale para a Square Enix, que no Japão possui os direitos para publicação dos jogos da série Call of Duty.
Esse tipo de prática também serve para que as grandes empresas de games ampliem sua carteira de títulos, e deem oportunidade a ideias inovadoras de desenvolvedoras pequenas, que jamais seriam capazes de colocar um título no mercado por si só. Este artigo, escrito por mim no Baixaki Jogos, elucida um pouco melhor esse conceito.
Aproveitando a experiência e concedendo consultoria
De acordo com afirmações do produtor Masachika Kawata, o desejo da Capcom com Operation Raccoon City é criar um game com a marca RE, mas com grande destaque para a ação. Dar um sentido diferente do convencional, com novos elementos e, principalmente, tentar atrair os fãs de jogos de tiro para a série. “Estamos colocando o game no mundo [da franquia], mas não queremos outra produção de terror, e sim um shooter”, afirmou, em entrevista para a Official Xbox Magazine.
A Capcom, porém, não é notória por games do gênero. Nesse caso, passar o desenvolvimento do título para uma empresa pequena, porém promissora, e que, principalmente, já conta com experiência, pessoal e dinâmicas voltadas para jogos de tiro pareceu uma ideia bastante atrativa. Esse movimento, acima de tudo, daria mais espaço para o desenvolvimento de Revelations e The Mercenaries 3D, títulos que já estavam sendo produzidos por times principais da companhia.
É aí que entra a Slant Six e seu currículo composto apenas de jogos da série SOCOM, sendo dois para PSP e um para PlayStation 3. A empresa conta com cerca de 100 funcionários e é a principal parceira da Sony no desenvolvimento da franquia de ação, após a compra da antiga produtora, a Zipper Interactive, pela própria gigante japonesa.
Isso tudo não significa, porém, que Resident Evil: Operation Raccoon City ficará totalmente nas mãos dos canadenses. Pelo contrário, a Capcom está acompanhando os trabalhos de perto e, inclusive, indicou aos envolvidos aquilo que pode ou não ser feito. O próprio produtor do game, Masachika Kawata, é um funcionário da empresa japonesa, e não da Slant Six, o que prova que esse acordo se trata mais de uma parceria do que de uma terceirização de desenvolvimento.
Ainda, a união com a Slant Six também tem a ver com uma política da Capcom para recuperação dos números de vendagem de seus títulos. De acordo com informação publicada em julho de 2010 pelo jornal japonês Nikkei, a empresa desejaria dobrar o número de lançamentos anuais. Sendo assim, passaria o desenvolvimento de alguns games de suas grandes franquias para estúdios ocidentais, enquanto a própria Capcom ficaria responsável apenas pela produção dos games principais.
Uma iniciativa com precedentes
Como dissemos no início desse artigo, Operation Raccoon City não é o primeiro game da série que não foi desenvolvido pela Capcom. Na verdade, esse tipo de parceria com empresas menores ocorreu pela primeira vez em Resident Evil CODE: Veronica, que foi desenvolvido por uma parceria entre a companhia japonesa e um desconhecido estúdio chamado Nextech que, à época, era uma subsidiária da SEGA.
Hoje chamada Nex Entertainment, a empresa tem em seu currículo, principalmente, títulos da série Time Crisis. Por ser uma subsidiária da SEGA, a Nextech era uma das grandes forças na consultoria e desenvolvimento de títulos para o Dreamcast que, em 2000, ainda estava em seu primeiro ano de vida.
Apesar de também contar com a supervisão constante da Capcom, a empresa teve uma certa autonomia para criar em cima daquele que pode ser considerado seu maior título até hoje. Isso explica as diversas diferenças de CODE: Veronica em relação a seus antecessores, principalmente no tocante a gráficos, modelagem de personagens e dinâmicas de jogo.
Já com a M4, responsável pelo desenvolvimento de Resident Evil Gaiden, a história foi bem diferente. Por se tratar de um título menor, lançado apenas para o Game Boy Color, o estúdio teve autonomia praticamente total para criar as mecânicas de jogo e até mesmo a própria trama, seguindo apenas algumas diretrizes impostas pela Capcom.
Em entrevista para a revista Retro Gamer, especializada em jogos antigos, o produtor de Gaiden, Tim Hull, afirmou que a Capcom estava completamente perdida durante o transporte de suas franquias para o portátil. “Vimos a primeira tentativa [de portar Resident Evil para o Game Boy]. Todos nós rimos – era o perfeito exemplo de como não se produzir um jogo portátil.”
A M4, originalmente, estava envolvida no port do primeiro Dino Crisis para o console de mão. Com o cancelamento da versão, a Capcom acabou transferindo a empresa para desenvolvimento de um Resident Evil para o console, principalmente por acreditar no sistema de batalhas desenvolvido pelo estúdio. De acordo com Hull, até mesmo o próprio Mikami ficou impressionado com a dinâmica de combates.
O desenvolvimento livre de amarras, porém, teve seu preço. Desde o início, a Capcom fez questão de afirmar que o jogo não era parte integrande da cronologia da série, fazendo questão de incluir o subtítulo Gaiden. Em japonês, a palavra tem side-story como um de seus significados, ou seja, indica uma história que não é considerada oficialmente.
No fim das contas, isso é ruim?
O desenvolvimento de Resident Evil: Operation Raccoon City fora dos escritórios da Capcom não significa, necessariamente, que o game será ruim. Os games da série SOCOM produzidos pela Slant Six contam com médias entre 65 e 70 no site Metacritic, que reúne análises de diversos veículos especializados. As notas, apesar de não serem muito altas, indicam títulos, no mínimo, regulares.
O que dá para esperar, com quase absoluta certeza, é um game bem diferente daqueles que estamos acostumados. Não só pela diferença de perspectiva desejada pela Capcom, mas também pelos controles, estilo visual e, principalmente, pelas características dos personagens, que diferem drasticamente dos protagonistas criados pela Capcom.
É possível, também, pensar que o título pode não ser considerado uma parte da cronologia, assim como Gaiden. Tal situação, inclusive, é o desejo de muitos jogadores que se irritaram com a principal premissa de ORC: matar Leon. A verdade sobre isso, muito provavelmente, só será conhecida quando o jogo chegar às prateleiras.
ÊÊÊÊ Parabéns pelo Site Evil Shady! ta lyndo! ;D
Aeae nosso primeiro comentário! =)
Valeu!
Já acompanho o que você escreve e gostei de saber que continuou mesmo depois de deixar o outro website baseado em RE. O Resident Evil SAC está excelente! =D
A muleke Bom artgo viu.
Conheço a empresa, e no quesito diversão online os fuzileiros do SOCOM são tudo de bom.
A empresa ja tem um motor basico para disputas MMO e pra plataformas portateis bastando encaixar o cenario de raccon.
Por isso mesmo que seja alternativo ao RE principal ainda como jogo é possivel que acabe bem divertido.
Mas concordo com algo ai no post.
A Capcom sempre foi muito fraca (não só com RE) pra desenvolver para portateis e celular.
Todos os games delas que peguei para essas plataformas são mito estranhos, ela encara como uma coisa diferente sei-la.