Tricell: Sob as cordas do titereiro

No mundo de Resident Evil, a Umbrella é soberana. Foi a partir dela que a trama da série nasceu, assim como Albert Wesker, seu principal vilão e um dos responsáveis por sua derrocada. O ex-líder dos S.T.A.R.S., porém, não é absoluto, apesar desse ser o desejo dele. E para atingir seu ideal de criar um novo mundo, ele precisou de alguma ajuda.

Foi aí que entrou a Tricell, empresa utilizada como laranja para a pesquisa e desenvolvimento do vírus Uroboros. Colocando em prática todo seu poder de manipulação, Wesker usou sua influência sobre Excella Gionne, uma das executivas de topo no escalão da empresa, para levar adiante seus desígnios.

A grande empresa, que passou por tempos dourados durante a era das navegações e possui braços que se estendem além das pesquisas farmacêuticas, foi reduzida a uma mera engrenagem no plano de um único indivíduo. E se não fosse pela intervenção de Chris e Sheva, a companhia se transformaria em uma das peças fundamentais da destruição do mundo como o conhecemos.

Mas afinal de contas, o que é a Tricell? Como uma das empresas fundadoras da B.S.A.A., que deveria ter ideais contra o bioterrorismo, se tornou a carruagem de um plano apocalíptico?

Crescimento em larga escala

A Tricell foi fundada por Thomas Travis, um bem sucedido mercador europeu, como Travis Trading. A empresa mercantil, aberta durante a Era dos Descobrimentos, tinha como negócio a exportação de produtos para o Oriente, principal rota comercial da época. De acordo com a Capcom, a companhia surgiu no século XVIII, uma referência história equivocada, e entrou no século XIX como uma próspera iniciativa.
A Era dos Descobrimentos ou das Grandes Navegações, na verdade, foi um período histórico que se estendeu do início do século XV até os primeiros anos do século XVII. Nessa época próspera, navios europeus saíram pelo mundo com o objetivo de mapear o planeta, expandir sua influência e, principalmente, descobrir novas rotas comerciais para as “Índias”. A região, que na verdade compreendia todo o sul da Ásia, era o principal destino para exportação de especiarias, ouro e prata, além de outros materiais valiosos na época.

Mapa que exibe as rotas descobertas pelos navios europeus durante a Era do Descobrimento

Foi justamente a prosperidade da Travis Trading que permitiu a Henry Travis, o mais jovem dos sete filhos de Thomas, realizar cinco expedições para a África, que originaram a “Pesquisa Geral de História Natural” (“Natural History General Survey”, no título original). O compêndio de 72 livros continham o primeiro estudo detalhado da fauna, flora, topografia e folclore do continente. Apesar de seu extenso conteúdo, a coleção foi desacreditada pela comunidade científica da época, sob alegações de que os detalhes escritos eram frutos da imaginação do autor.

Com a repercussão de seu trabalho, Henry caiu em um estado de depressão profunda, e veio a falecer dois anos após sua última expedição à África. O irmão mais velho do pesquisador (de nome não divulgado) veio a público afirmar mais uma vez que a obra era apenas ficção, enterrando de vez as descobertas do autor. As declarações, porém, eram uma forma de manter as informações no controle único da Travis Trading.

A estratégia funcionou e, na metade do século XIX, a empresa tinha uma atuação constante no continente africano, explorando campos de petróleo e gás natural, além de contar também com serviços em mineração. Esse trabalho deu origem a uma nova divisão, que trabalhava exclusivamente com recursos naturais.

Já no século XX, a Travis Trading passou por mais uma expansão, passando a trabalhar também com a coleta de plantas, animais e insetos. Esse segmento deu origem a uma série de pesquisas no campo da medicina e acabou motivando a criação de uma terceira divisão, dedicada a produtos farmacêuticos.

Na década de 60, com o crescimento impressionante da companhia, a Travis Trading se transformou em Tricell, um conglomerado que reunia os três braços já existentes da empresa. A ideia, porém, era que cada setor fosse gerenciado de forma independente, com seu próprio capital. A grande companhia, então, se transformou em um conglomerado que, aos poucos, deu origem também a outras divisões.

As origens do vírus Progenitor

As descobertas de Henry Travis não contribuíram apenas para o crescimento da empresa de sua família. Um achado em particular chamou a atenção de Ozwell Spencer, um dos fundadores da Umbrella: a flor Escadaria para o Sol (Stairway to the Sun, no nome original), e sua importância para a tribo Ndipaya, que habitava uma região no coração da África.

De acordo com as lendas daquele povo, a planta teria papel fundamental na seleção dos líderes tribais. Enquanto, para alguns, ela era fatal, para outros, a flor garantia poderes sobre-humanos. Os elegíveis, então, deveriam ingeri-la, e se sobrevivessem, poderiam se tornar “reis” dos Ndipaya.

Créditos da imagem: Project Umbrella

Intrigado com a importância da Escadaria para o Sol para aquele povo, Spencer liderou uma expedição ao coração da África, acompanhado de James Marcus e Brandon Bailey, dois cientistas que, na época, eram pesquisadores-chefe da Umbrella. Após três meses de buscas e pesquisas, uma cepa viral com a capacidade de modificar o DNA do infectado sem matá-lo foi encontrada nas plantas. A descoberta foi um dos estopins para a criação do Vírus Progenitor cujo desenvolvimento, mais tarde, daria origem ao T-Virus.

Excella Gionne e o vácuo deixado pela Umbrella

Em 1999, Excella Gionne se une à divisão farmacêutica da Tricell. Com apenas 18 anos, ela já possuía formação em engenharia genética e impressionava a todos não apenas por sua inteligência, mas também devido à sua beleza. Além disso, ela também era descendente indireta dos Travis e, sendo assim, teve sua entrada na companhia facilitada.

Seus laços sanguíneos, porém, somente a ajudaram até certo ponto. Indignada com o que julgava ser um “tratamento injusto” por parte de sua família, ela recebeu um único time de pesquisa para liderar. Sua insatisfação abriu as portas para Albert Wesker que, com o fim da Umbrella, passou a ela todos os segredos da antiga companhia, obtidos após o incidente na Rússia.

Utilizando a tecnologia e o conhecimento obtidos com o vilão, Excella iniciou um trabalho de pesquisa de armas biológicas, preenchendo o vazio deixado pelo fim da empresa de Spencer. Com os lucros exorbitantes obtidos com a prática e um bom uso de sua beleza e poder de persuasão, a moça subiu nos escalões da Tricell e se tornou presidente de toda a divisão africana da empresa.

Com a ajuda das indicações de Wesker, Excella pôde, cada vez mais, ampliar a influência da Tricell no segmento de armamentos. Em 2005, a empresa adquiriu a Wilpharma, companhia que entrou em falência após um ataque biológico ocorrido na cidade americana de Harvardville, e obteve o G-Vírus. Em contrapartida, a moça utilizou o traficante de armas Ricardo Irving para obter uma amostra do parasita Las Plagas para o ex-S.T.A.R.S.

De forma a acobertar suas pesquisas ilegais, a Tricell também se tornou uma das principais contribuidoras da B.S.A.A. (Aliança de Avaliação de Segurança em Bioterrorismo, na tradução da sigla em inglês), órgão filiado à ONU criado para combater incidentes biológicos ao redor do mundo. Dessa forma, Excella poderia usar sua influência na organização para mascarar ou evitar a investigação de incidentes que poderiam ser prejudiciais à sua empresa.

Os primeiros passos do projeto Uroboros

O primeiro passo do plano de Wesker para “renovar” o planeta envolvia a reabertura do laboratório africano da Umbrella, onde foi descoberta a Escadaria para o Sol. Com o reinício das pesquisas no local, a divisão africana da Tricell obteve o vírus Progenitor, além de criar formas melhoradas do parasita Las Plagas.

Os fundos necessários para manter o laboratório em funcionamento vinham da venda ilegal de armas biológicas, por meio de Ricardo Irving. Ele também era o responsável por coordenar testes de campo com as descobertas da empresa, realizados em pequenos vilarejos nas proximidades das instalações da Tricell. As cobaias também serviam como “seguranças”, impedindo, com violência, a aproximação de estranhos.

A primeira forma do vírus Uroboros, porém, se mostrou altamente tóxica a qualquer hospedeiro. Tal fato dificultou enormemente a continuidade da pesquisa, já que os cientistas da Tricell pareciam incapazes de diminuir a carga nociva de sua criação. O marco zero para a pesquisa, porém, ocorreu quando uma das cobaias se provou capaz de enfraquecer o veneno, por meio de uma infecção posterior pelo T-Vírus.

A cobaia em questão era a ex-policial Jill Valentine. Infectada e curada em 1998, durante a infecção viral em Raccoon City, ela foi dada como morta após um confronto com Albert Wesker, em 2006. Acreditando que ela seria útil em suas pesquisas, o vilão a salvou e a manteve em um estado de suspensão criogênica, causando uma mutação nos anticorpos virais presentes no corpo da moça. Tal fator acabou sendo o responsável pelo enfraquecimento do vírus Uroboros.

O fim da manipulação de Wesker

Para demonstrar a potenciais clientes as possibilidades criadas pelas novas variantes do Las Plagas, Irving promoveu uma falsa vacinação dos habitantes de Kijuju, no coração da África. A eles foi administrado a variante 2 do parasita, enquanto a versão 3 foi reservada aos nativos da tribo Ndipaya que, expulsos de seu território, costumavam causar problemas aos pesquisadores da Tricell.

Tal fato motivou a missão de Chris, Sheva e grande parte da divisão africana da B.S.A.A. ao local, já isolado de forma a conter o incidente. A chegada da organização ao local causou uma alteração nos planos de Irving. Para evitar ser preso, o traficante fez com que os infectados atacassem os dois agentes, iniciando uma violenta batalha que serviria também para a coleta de dados de combate que, mais tarde, seriam utilizados para melhorar ainda mais armas biológicas da Tricell.

Irving, Wesker e Excella, porém, não contavam com a habilidade de Chris e Sheva, que superavam um a um os obstáculos impostos a eles. Após a perda de grande parte de seu esquadrão, os dois chegaram aos laboratórios da Tricell e, pouco a pouco, descobriam a conspiração na qual estavam envolvidos e os planos de Wesker para destruição mundial.

Todo o trabalho de Wesker foi realizado com recursos e financiamento da Tricell, por meio da influência que o ele exercia sobre Excella, que incluía inclusive um interesse romântico por parte dela. Assim como a Umbrella, porém, a executiva e sua empresa eram nada mais do que elementos a serem descartados assim que não tivessem mais utilidade.

Com o momento de início da renovação do mundo se aproximando, Wesker infectou Excella com o vírus Uroboros e a lançou contra Chris e Sheva, em uma última tentativa de matá-los. Após saírem vencedores do combate, os dois agentes seguiram atrás de Wesker e conseguiram impedir os planos do vilão, matando-o em seguida.

Futuro incerto

Com o final bem sucedido da missão de Chris e Sheva na África, é possível pensar que a dupla de agentes exporia a verdade sobre a participação de Excella e o envolvimento da Tricell nos planos de Wesker. Como a influência sobre a B.S.A.A. era exercida em grande parte pela vilã, os executivos da empresa não poderia fazer nada a não ser assistirem atônitos à destruição de sua credibilidade e à queda de suas ações na bolsa de valores.

Tais informações, porém, são apenas suposições. A Capcom, até agora, não divulgou o destino da Tricell após os incidentes em Kijuju.


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Autor: Felipe Demartini Ver todos os posts de
Felipe Demartini (Evil Shady) trabalha com sites de Resident Evil desde 2000. É jornalista e descobriu nos games a melhor combinação entre trabalho e diversão.

8 Comentários em "Tricell: Sob as cordas do titereiro"

  1. Joacir Júnior 24/05/2011 at 17:04 -

    Muito legal este artigo sobre Resident Evil 5. Ficou muito interessante como a história desenrolou até a envolvimento de Wesker com Excella e as explicações dadas sobre a função de Jill.
    Também é gratificante ver como foi dado o desenvolvimento da Tricell, provando que as coisas não acontecem de um dia para o outro. Parabéns!

  2. MAX 11/06/2011 at 16:59 -

    Excelente artigo, eu sou muito fã da franquia RE , gostei muito do Site.

    Parabéns!

  3. DeadGanado 09/06/2012 at 02:28 -

    Muito Bom! 😀

  4. wesley 13/09/2012 at 09:42 -

    muito legal essas informações

  5. Leon Scott Kennedy 25/11/2012 at 05:43 -

    nossa velho eu nem sabia que tinha essa tal de tricell olha que so joguei resident evil 1,2,3 e 4 eo orc e nunca vi isso ‘-‘

  6. Lucas84 23/03/2013 at 15:26 -

    Shady, como a plaga chegou nas mãos do Wesker? A Ada não lhe enviou uma amostra da “plaga subordinada” e não a que ele queria? Como Irving botou suas mãos nisso? E vc tem alguma pista do que será a “3rd Organization” para qual a Ada trabalhou em RE4? será que algo disso está relacionado com a “The Family” do RE6? ou até mesmo Neo-umbrella? Eu percebo bem a história da franquia, mas essas duas pontas sempre me deixaram aqui na dúvida, como vc é experiente na matéria agradecia sua ajuda.

    Abraço!

    • Felipe Demartini 23/03/2013 at 20:05 -

      Vamos por partes hahahaha

      – A Ada enviou a ele uma amostra subordinada mesmo. O Wesker obteve Las Plagas pela Tricell, mas as origens dessa amostra do Irving/Excella é desconhecida.
      – Nada de pistas sobre a 3rd Organization, nem nada sobre relações com Neo-Umbrella ou Family.

      • Lucas84 23/03/2013 at 22:14 -

        Obrigado 🙂 a 3rd Organization é algo misterioso mesmo.. a Ada referiu ela como “S” na sua report, a Tricell era para ser chamada Seashell, e dizem que isso está relacionado com a Organization, ou seja, era Tricell? kkkk mistério..
        Acabei de encontrar na Wikia do RE, Wesker obteve a plaga dominante do cadáver de Krauser, adquirida por Irving, e foi aí que começaram as pesquisas que deram origem ao Type 2, vc acha esta afirmação possível?